domingo, 22 de novembro de 2009

Ponta pé inicial....

Em meio a dores darás à luz filhos”

“Quebrou... joga fora!

Esse aí também pode jogar fora; não presta mais...”

“Mas quase não dá pra ver; vou tentar aproveitar ele...”

“Tá quebrado, Marta! Não dá pra ver, mas tá aí, quebrado, rachado... cuidado para não se cortar”.

“Mas é tão bonito... é uma pena ter que jogar fora”

“Vai lá dentro e pega mais alguns, aliás, lá dentro tem milhões desse aí!”

(Assim sucedeu-se)

Observando por dias diálogos como esse é que identifiquei o ponto desse trabalho.

O local é um hotel; as personagens são as funcionárias da cozinha. Existe uma grande caixa verde do lado de fora com os escritos: “Deposite aqui vidros quebrados”. Era o meu caminho; passava por ali todos os dias e nesses “todos os dias” identificava que a cada dia aquele número de taças, copos e garrafas aumentava.

Como que você vai beber água nesse copo rachado, Marta? E nesse, que tá todo quebrado?”

São muitos.

Amontoei por alguns dias alguns aqueles utensílios (taças e copos quebrados e/ou rachados). Não nos é possível preencher seu interior com o volume líquido que seria permitido antes de sua quebra.

Aceitação; Olhando de certo ângulo percebo que boa parte do material ainda permanece na forma original, não fosse a linha trincada que impede que o líquido permaneça dentro do objeto. Outras possuem apenas uma leve linha de rachadura; mas existe. O líquido pode até permanecer dentro dessa taça ou copo com a tal linha de rachadura, mas por a qualquer descuido mínimo, pode se tornar inutilizável. Outros também admitem restar-lhes apenas a haste, o local onde seguramos com os dedos; nem mesmo o interior foi preservado; por mais que queiramos, não é possível um volume interior muito satisfatório; é o que suporta essa taça ou esse copo.

Uns mais pontiagudos outros menos. Uns com um volume interior maoir. Outros com volume interior menor.

Aconteceu de um dia se tornarem “inúteis”. Quebrados ou quebrados e rachados, todos carregarão consigo a impossibilidade da plenitude. Quanto de conhecimento líquido posso derramar lá dentro?

Chega, chega... não cabe mais”

“Mas não encheu ainda...”

“Chega, não cabe mais...”